breve retrospectiva de 2022
começando todos os parágrafos conjugando um verbo em primeira pessoa para falar de coisas boas que aconteceram em um ano ruim
Tive um ano esquisitíssimo. Quanto mais me planejei, menos consegui cumprir deadlines. Quanto mais procurei trabalho, menos frilas consegui. Trabalhei muito enquanto prestadora de serviço, e aí faltou tempo para dedicar à newsletter da maneira que eu gostaria.
Priorizei o descanso o quanto pude e também quando fui obrigada: estive um punhado de vezes no pronto-atendimento médico. Os motivos foram variados. Mesmo com saúde física e conscientemente desacelerando o ritmo de trabalho, tive crises depressivas e de ansiedade intensas – diferentemente do ano passado, neste dezembro aumentei a dose do antidepressivo. Enfrentei períodos de aversão ao computador e pensar na newsletter me causa(va) angústia.
Virei tia de gêmeos, e assumi a função de babá meio-período de maneira intermitente. Experimentei o cansaço físico e a estafa mental juntos e intercalados. Voltei a caminhar.
Produzi coisas das quais gostei – imagino quão melhor seria a qualidade do meu trabalho caso eu tivesse um cérebro que colaborasse. Resolvi retomar essa newsletter fazendo um post em que relembro as coisas boas de 2022. Estou me planejando para voltar com a periodicidade de três posts por mês em janeiro de 2021, mas é aquela coisa: pode ser que, quanto mais eu me prepare, menos o destino ajude.
E OBRIGADA
Muito obrigada a quem continuou apoiando a newsletter mesmo no hiato de postagens, sem previsão de retorno.
Se você chegou a esse post por acaso e gostaria de receber as próximas edições da newsletter fogo baixo, assine:
JANEIRO
A reportagem sobre a precariedade e baixa remuneração dos baristas foi o post mais lido do ano. #7 | o preço do café especial e o valor do barista trouxe muitos seguidores para o Instagram e assinantes para esta newsletter e foi publicado no dia 31. Segue sendo o mais lido de todos os tempos.
ABRIL
Recebi o primeiro lugar e o destaque regional do Prêmio FIEP Jornalismo por uma reportagem sobre erva-mate, publicada em 2021. Conto como foi ao final da edição com a entrevista com Regina Tchelly.
Escrevi uma reportagem sobre dark kitchens e plataformas de delivery em parceria com o Manual do Usuário, site de tecnologia do meu amigo Rodrigo Ghedin. Repercutiu muito no Twitter e a newsletter foi indicada pelo Oga Mendonça (!) no Braincast (!). Só quem é rato de podcast como eu sabe a alegria que é ouvir seu nome enquanto lava a louça (leia o que escrevi em novembro).
MAIO
Realizei a terceira edição do curso Como Escrever Sobre Comida. Era para ter havido uma quarta turma virtual em 2022, o que não aconteceu devido ao Brasil acabando, para a tristeza de muitos (inclusive eu). Em 2023, a ideia é fazer uma versão pocket, de um ou dois dias; e lançar uma versão gravada, transmídia, com encontros ao vivo para tirar dúvidas e realizar exercícios. Torçam daí que eu estou torcendo daqui. 🤞
Participei do podcast Posfácio falando sobre literatura e comida: receitas, texto de memórias, ensaios, e mais coisas sobre escrever e comer.
Saí colando lambes com trechos da newsletter por Curitiba.
JULHO
A convite de Guilherme Lobão, participei da Jornada Gastronômica de Inverno, um evento on-line que trouxe uma série de discussões sobre comida, mídia e cultura com profissionais de diferentes áreas. A aula está gravada (são três horas!) e disponível no YouTube. Em agosto, publique um resumo do argumento que apresento em aula no texto #12 | o que diz a comida, um dos mais curtos da fogo baixo.
A fogo baixo completou um ano! 😀 O planejamento que está ao final deste post nunca foi adiante. ☹️
AGOSTO
A entrevista com Raphael Brandão, do Café di Preto, foi um estouro. Foi traduzida para o inglês e publicada pela minha colega Pat Willard, do America Eats!, semanas depois. A recepção na gringa foi igualmente estrondosa. Mérito do Raphael, que tem um trabalho importante a nível mundial, que está nos primeiros passos em solo brasileiro. Em determinado momento, a entrevista ultrapassou o número de acessos da reportagem sobre baristas e café especial, publicada em janeiro. Ambas entraram no fanzine que lancei em outubro, uma colaboração com meu amigo e ex-colega de faculdade Marcelo Andreguetti (leia mais na nota de outubro).
Participei da edição do Matte Cultural em São Mateus do Sul (PR), evento da Matte’n Roll para divulgar e discutir a cultura da erva-mate. Fui convidada para integrar um painel sobre a segunda onda da erva-mate – expressão que peguei emprestada da história do café para definir o momento em que a indústria e o consumo da erva têm passado. Foi esta reportagem, aliás, que me rendeu o prêmio recebido em abril. Além da participação no painel, fiz uma demonstração de degustação da infusão de erva-mate com alguns voluntários no palco, a convite da Chimatearia.
SETEMBRO
Colaborei com o Nossa, do UOL, com uma matéria sobre almôndegas e outra sobre queijo coalho. Foi gostoso escrever sobre ingredientes e pratos depois de tanto tempo!
OUTUBRO
Debutamos com os produtos fogo baixo na feira gráfica Mamute. Vendemos dezenas de fanzines, cartazes, adesivos e caixas de fósforo (!). Os produtos fogo baixo só existem porque dois amigos designers embarcaram nessa comigo.
Tudo começou porque eu queria fazer um fanzine com textos da newsletter, e um café para rever os amigos da faculdade me fez reencontrar o Marcelo Andreguetti, um excelente designer gráfico. Marcelo matou no peito a ideia do zine e fez um projeto gráfico limpo e sério, como eu gosto, e complementou com colagens digitais belíssimas. No mesmo período, conversando com o Rafael Ancara sobre os lambes e a ideia de cartazes, surgiu a ideia de tentar com serigrafia, coisa que o Rafael domina. Nos reunimos os três e um milhão de ideias vieram.
Agora nós três nos unimos para seguir produzindo e abrimos uma lojinha on-line com cartazes em serigrafia, cartazes em impressão tipográfica, panos de prato e fanzines. Enviamos para todo o Brasil por Correios.
NOVEMBRO
Depois de anos como ouvinte, fiz uma coisa que todo nerd de podcast gostaria de fazer: entrevistar um apresentador ou produtor de seus programas preferidos. Não ouço o Projeto Humanos porque passo mal com descrição e cenas de violência, mas fui ouvinte assídua do Anticast por anos, e acompanho o trabalho de Ivan Mizanzuk desde então.
Mediei uma de Mizanzuk na Festa Literária da Biblioteca Pública do Paraná (FLIBI), e os principais trechos da nossa conversa estão transcritos no jornal Cândido. Falamos sobre narração e literatura, técnicas de entrevista, bastidores das apurações e gravações, e temas conexos.
Dei uma aula sobre tabus alimentares e formação social do gosto para alunos da PUC PR e do SENAC PR a convite do professor Renato Bedore, que leciona em ambos os cursos. A participação dos alunos de ambas as instituições me surpreendeu positivamente. Ainda transformarei essa aula em um texto, a exemplo do que fiz em julho, com o ensaio #12 | o que diz a comida.
Novembro foi o mês das mediações. E de pisar muitas vezes no SENAC. Mediei uma mesa de debate sobre cozinha brasileira na semana acadêmica dos alunos de gastronomia da instituição, dos quais participaram a antropóloga Naomi Mayer, a historiadora Maria Cecília Pila e o designer e gastrólogo Renato Bedore, professor do curso de gastronomia do SENAC. Tive dor no punho de tanto que escrevi enquanto os convidados falavam. Foi um dos debates mais profundos, interdisciplinares e instigantes do qual participei e ao qual assisti. Quem não foi, perdeu.
Assinei uma reportagem para a Tutano sobre o paradoxo da falta de mão de obra para restaurantes mesmo quando o desemprego atingiu 14% e o setor gastronômico voltou a crescer em 2021. Vou publicá-la na íntegra nesta newsletter em janeiro, mas quem quiser dar uma olhada antes, pode pegar um exemplar gratuitamente em restaurantes de Curitiba e São Paulo (a lista de estabelecimentos está no Instagram da revista) ou conferir o pdf da revista.
DEZEMBRO
Dei uma entrevista à Renata Lira, da Atole Newsletter, minha colega mexicana de Substack e com quem gostaria de colaborar desde 2021. Foram dois os posts que ela escreveu a partir da nossa conversa: Sobre Brasil, comida, política e fútbol e Farofa, pão de alho, maionese… um prato brasileiro familiar. Neste último, Renata cozinha uma carne de panela inspirada nos meus relatos sobre os almoços na casa da minha avó. Ela preparou o prato partir de uma receita explicada de maneira muito simples e sem detalhes por mim, e disse que ficou muito, muito bom. Me emocionei muitíssimo com esses textos e a disposição da Renata em cozinhar pratos tão importantes para a minha família. Os posts estão disponíveis em espanhol e inglês.
Escrevi um perfil sobre um jovem taxidermista de Curitiba para o TAB UOL. este é o meu gênero preferido para escrever, porque o trabalho de apuração se assemelha à perícia. É preciso estar próxima da pessoa, observando-a, encontrá-la com certa frequência, abordar assuntos técnicos, metafísicos e mundanos, e procurar símbolos, sínteses e cenas que tentem retratá-la diante do leitor, que às vezes sequer conta com muitas imagens.
Que 2023 seja melhor.
Feliz 2023!
Me identifiquei muito com o seu relato e fiquei impressionada com o número de coisas legais que você produziu e viveu esse ano que passou. Você é demais e me inspira muito.
Um beijo
Amei sua matéria sobre queijo coalho! Essa newsletter inteira estava especial - e que legal a Atole, comecei a assinar. Ano maravilhoso pra vc!