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🖊️ RECOMENDAÇÕES COMENTADAS

recomendações comentadas #3

o repórter e a sua própria pobreza | capitalismo e hospitalidade | nem toda necessidade é pragmática

Flávia Schiochet
Aug 11, 2022
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mereciam estar entre os mais lidos:

março/22 [entrevista: Taís de Sant'Anna Machado] "a figura do chef de cozinha se constrói em contraponto à cozinheira doméstica negra"
outubro/ 21 [entrevista: Antônio Barbosa] sementes crioulas resistem ao desmonte do Brasil
junho/21 #1 | falta de comida e falta de informação são problemas de logística

As recomendações deste mês são puramente leituras e suas respectivas citações se encontram abaixo. A previsão de leitura é de 6 minutos.

Sigo trabalhando muito mais em projetos que não são meus, o que significa que o tempo dedicado a essa newsletter vai diminuir ainda mais para o próximo mês, e isso significa que os próximos textos serão mais curtos e escritos em menos tempo. Acho que vocês vão preferir, porque tanto o #8 | o pensar culinário quanto o #12 | o que diz a comida, que foram feitos assim rapidamente, estão entre os mais lidos. Curioso.

No mais: há agenda em setembro para mentoria em não-ficção – especialmente se for sobre comida – como reportagens, crônicas e ensaios jornalísticos ou pessoais. 

O modelo é o seguinte: trocamos emails para entender qual sua necessidade e estabelecer um objetivo; você me envia sua produção textual ou ideias para textos, referências e demais materiais que julgar interessante; eu leio tudo antes da nossa conversa ao vivo, por videoconferência (ou em uma cafeteria se você morar em Curitiba). 

O valor da hora é R$ 150 – assinantes pagos da fogo baixo têm 10% de desconto. A depender da extensão do seu trabalho, há a possibilidade de fazer um pacote com várias sessões. Me escreva e vamos ver qual o seu caso: schiochetflavia@gmail.com 

PS: Se você deseja começar a escrever, o serviço é outro e mais extenso. Inclui uma aula particular e prevê três reuniões para alinhamento e acompanhamento da produção textual. 

O REPÓRTER E SUA PRÓPRIA POBREZA

Frequentemente volto a essa anotação do jornalista Marcos Faerman, porque considero que ela deveria soar como um truísmo para todos da área, especialmente os repórteres:

Saindo da abstração – O repórter em busca da realidade. Com a sua sensibilidade. Com a sua insensibi­lidade. Em nome de uma Empresa Jornalística. Ouvindo histórias das vidas dos outros. Sugando dos outros, a úni­ca coisa que eles têm, além dos próprios corpos, nus: uma história, a sua perplexidade, as suas dúvidas, as mí­nimas certezas. O repórter e sua própria pobreza. As dú­vidas, as pequenas verdades, o grande medo. E o que lhe disseram ser "jornalismo". E a linguagem que lhe disse­ram ser “jornalística". Como esta linguagem se adequa aos olhos e às mãos daquele homem, à beira do rio?

É do livro Com as mãos cheias de sangue, um compilado de reportagens, colunas e anotações do jornalista gaúcho. Fiz a cópia do livro físico no xerox da faculdade no primeiro semestre, emprestado da professora substituta da disciplina Técnica de reportagem, entrevista e pesquisa, Míriam Santini de Abreu. 

Marcos Faerman na redaçåo do Jornal da Tarde. Não encontrei a data, nem o crédito do fotógrafo.

Eu tinha 17 anos e até hoje as aulas da Míriam foram as mais importantes na minha formação, em parte por ter sido a primeira professora de jornalismo, em partes porque suas aulas traziam a urgência do jornalismo enquanto crítico e consciente do seu papel. Não encontrei nenhum outro professor de redação que poderia ser chamado de repórter e me inspirasse tanto quanto Míriam. 

Acabei doando a minha cópia em uma das mudanças, não sem lamentar nossa separação. Felizmente, todos os livros do Marcos Faerman estão disponíveis em pdf fac símile na aba Coletâneas, do site que sua filha, Laura Faerman, organizou.

CAPITALISMO E HOSPITALIDADE

[em inglês – use a opção 'traduzir página' do seu navegador] 

Duas coisas chamaram minha atenção sobre esse texto de TW Lim, da newsletter Let them eat cake. A primeira é como o exemplo dado por Lim em que trata da diferença entre os públicos do Fat Duck e do Hind’s Head, e de como o fator financeiro pesa na equação. A segunda é a afirmação de que a "aura" do restaurante são os frequentadores.

(...) os restaurantes tornam-se uma indústria ao retirar a igualdade e a reciprocidade da interação. Talvez seja impossível conciliar nosso instinto de hospitalidade com a economia de hoje.

A verdade é que os convidados fazem o restaurante. Qualquer coisa que os convidados adicionam à cena é dada livremente e, nesse sentido, eles estão prestando à casa um serviço que a casa não pode realizar por si mesma. Isso é duplamente verdade porque o que os hóspedes geralmente acrescentam é a sensação de que o restaurante é a mais ameaçada das criaturas – uma comunidade real e física, um grupo de pessoas que criaram uma história, normas e costumes compartilhados.

(...) Os restaurantes não se caracterizam pelos seus clientes, mas sim pelos seus frequentadores, e para ser assíduo não basta só ter dinheiro para comer em algum lugar, mas viver perto dele.

Faz semanas que li esse texto e sigo pensando no acesso a experiências – não no sentido comer-em-restaurantes-estrelados, mas de ter a possibilidade de frequentar um lugar do qual você gosta e poder fazer parte dele. 

NEM TODA NECESSIDADE É PRAGMÁTICA

A Cristal Muniz compartilhou insights valiosos no mais recente texto da newsletter Cuca Fresca. Em "O que mudou depois que tudo mudou", ela elenca cinco coisas que ela passou a enxergar de maneira diferente ao longo desses sete anos diminuindo desperdício. 

O quinto ponto, que destaco abaixo, é o mesmo que enxergo na ideia do consumo de alimentos orgânicos, de origem, certificados e etc. 

Nem toda necessidade é pragmática

Quando a gente fala de sustentabilidade, a gente costuma pensar na função funcional, no pragmatismo só e demonizar outras características dos objetos como a estética, o simbólico, o subjetivo. E acho que isso faz com que muita gente 1) se sinta muito culpado e 2) se sinta infeliz e numa encruzilhada noutras vezes. Nós somos seres humanos, somos animais para os quais o simbólico é importante, a estética faz parte da nossa construção como ser, da nossa identidade. 

E conclui: "mudar não é fácil na internet". Não tenho nada a acrescentar depois disso. 


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próximas edições:

15/08 – tradução para o inglês do ensaio #12 | o que diz a comida
21/08 – entrevista com Raphael Brandão, do Café di Preto
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