recomendações comentadas #2
o que escrever | Magliani no Iberê | vozes negras | tudo é narrativa
os posts mais populares de todos os tempos:
[janeiro/22] #7 | o preço do café especial e o valor do barista
[junho/22] #11 | queijos no lixo: o que dificulta a produção em pequena escala no Brasil
[julho/22] recomendações comentadas #1 (uau?!)
[⚠️ aviso: esta edição contém links afiliados, o que significa que eu recebo uma pequena comissão caso você compre o livro indicado 🙃]
Julho se aproxima do fim e tirei proveito máximo dele. Não para descanso: apesar de ter deixado de publicar uma reportagem/ensaio e uma entrevista nesta newsletter, entrei em novos frilas.
Me indicar para trabalhos pontuais ou temporários também é um jeito de manter essa newsletter no ar: se souber de algum job de revisão ortográfica e gramatical, edição textual ou mesmo de alguém que gostaria de ter uma mentoria (detesto esse termo. aceito sinônimos menos boçais, rs) de produção textual, me escreva!
Minha especialidade é falar de comida, mas os conhecimentos de construção de narrativa valem para qualquer assunto cuja abordagem seja a não-ficção, especialmente para reportagem e ensaio pessoal: schiochetflavia@gmail.com
Já estou com três pessoas agendadas para os próximos meses. Me escreve se você também quer contratar um serviço semelhante! 🙃
Agora, hora das recomendações da quinzena, uma leitura que vai tomar menos de 10 minutos do seu tempo:
O QUE ESCREVER
[em inglês – use a opção 'traduzir página' do seu navegador]
Mensalmente, a Kate McDermott organiza e media um encontro de food writers que usam a Substack como plataforma. No encontro de junho, houve uma indicação para uma edição da newsletter Noahpinion, de Noah Smith. Lendo aos poucos, cheguei em um material que achei muito útil: os conselhos de escrita do autor.
Particularmente interessante a categorização que Noah faz dos tipos de texto que ele escreve – considero-os válidos para quem busca se colocar como uma voz original em sua área.
Traduzindo rapidamente, seriam:
respostas a outros autores
takes, aquelas opiniões ligeiras que costumamos exercitar nas redes sociais
teses próprias, em que você expõe argumentos, hipóteses e elenca evidências, dados e demais informações nas quais você se apoia
lições, ou ainda dicas, passo a passo, explicações, contextualizações – algo da sua expertise que sirva para ensinar algo ao leitor
resumos – aqui, significa a organização de evidências para compor um argumento que você defende, mas que não chega a ser a sua tese
narrativas, no sentido de histórias pessoais que mostrem sua maneira de ver o mundo, de um jeito mais indireto que as teses
Ótimo conselho também sobre o quanto da força do texto é a construção de uma argumentação que não esgota o tema:
Um argumento sólido é construído não apenas das coisas que você escreveu, mas também de muitas coisas que você não escreveu. Há muito conhecimento prévio e contexto necessários para decidir quais fatos incluir e quais não incluir; quais argumentos abordar e quais ignorar; em quais aspectos de um problema focar, etc. etc. Esse background de conhecimento não pode [ou não é possível de] aparecer inteiramente no post. Está na sua cabeça, não na página.
Parte disso é a antecipação de contra-argumentos. Se você deseja construir o melhor texto possível sobre o assunto, deve certificar-se de que é capaz de abordar o melhor contra-argumento possível.
Em outras palavras: saiba delimitar seu assunto e escolha suas batalhas argumentativas, pois algo sempre ficará de fora.
MAGLIANI NO IBERÊ
Me senti uma ignorante quando adentrei o quarto andar da Fundação Iberê Camargo, no dia 21 de julho, em Porto Alegre. Uma exposição iniciada em março traz telas, esculturas, ilustrações, cartas e aforismos fixados nas paredes de dois pavimentos do prédio.
Magliani assinava seus trabalhos apenas com seu sobrenome, uma coisa que automaticamente me fez e faz pensar em um artista homem. Mas Maria Lídia Magliani foi uma artista mulher, uma das primeiras mulheres negras a se formar em Artes Plásticas da Escola de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Teve uma inserção nas cênicas, como cenógrafa, figurinista e atriz; ilustrou textos e edições de revistas e jornais como os grandes Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo e os independentes Tição, Mulherio e Lampião da Esquina (neste, publicou um texto, linguagem em que Magliani é tão eloquente quanto com o pincel); foi capista de livros de Caio Fernando Abreu, de quem foi amiga; e expôs, coletiva e individualmente, em diversas capitais do Brasil, mas principalmente em Porto Alegre.
Gostaria de ter visto o trabalho de Magliani mais cedo. Espero que você também.
A exposição se encerra no dia 31 de julho, e quando estive lá, os catálogos já haviam esgotado há mais de um mês. A versão on-line é eterna enquanto durar: volume 1 & volume 2. Recomendo ler primeiro da página 65 a 88 do volume 2, onde está a linha do tempo da vida da artista.
VOZES NEGRAS
O podcast Posfácio entrou em sua terceira temporada! Carol Passos e Stefani Ceolla entrevistarão autores brasileiros, e começam conversando com Eliana Alves Cruz, autora de Água de barrela, Solitária e Nada digo de ti, que em ti não veja.
O último título foi o único que li até agora, e fui dragada para o século 18 por dois dias, o tempo que levei para ler o romance. Se tivesse o quíntuplo de páginas, eu não reclamaria. Eliane também é jornalista de formação – assim como eu, Carol e Stefani – e seu trabalho de composição de personagens, situações, ambientes e diálogos é o resultado de um olho para o concreto, para a evidência dos outros tempos. Uma aula de texto.
Eu tinha curiosidade para ler Eliane desde que a ouvi falar no podcast Vidas Negras, do Tiago Rogero, um trabalho que merece ser maratonado de tempos em tempos. Eliana é uma das entrevistadas do episódio de estreia, e fala sobre seu processo de pesquisa histórica entre os velhos da família, documentos de arquivo público e pesquisas acadêmicas. Leia a Eliana, ouça o Tiago.
TUDO É NARRATIVA
Essa thread da Carla Soares, do Outra Cozinha, tem a ver com o que vou publicar no dia 1º de agosto. Clique sobre a caixa abaixo para ler a sequência completa do raciocínio de Carla:
Adiei a escrita daquele ensaio sobre identidade e centros urbanos e vou transformar em texto o conteúdo da aula que dei na Jornada de Inverno da Gastronomia do Comida de Pensar, um intensivo de conteúdo inédito sobre gastronomia, organizado pelo Guilherme Lobão. A gravação das aulas está disponível para quem quiser assistir e emitir um certificado.
Meu texto falará sobre a escolha de assunto e ângulo quando se escreve sobre comida e que – mesmo um texto escrito no susto, de maneira espontânea – tem um viés. Quando escrevemos, estamos apontando para onde o leitor deve olhar, ora de um jeito mais sutil do que o close-up no cinema, ora mais nítido que uma imagem. Tudo é narrativa, e nenhuma narrativa é neutra.
obrigada por nos citar ❤️