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Que entrevista, Flavia! Ela toca num monte de incômodos que eu sinto, mas tem dois que eu fiquei aqui batendo a mão na mesa falando "issooo"! O primeiro é esse lá do finzinho, em que ele fala sobre uma gastronomia que possibilita uma conexão com o outro que vá além do romantismo de 'isso me lembra a minha avó'. Eu fico sempre intrigada qd essa reação aparece dentro do meu trabalho. Embora eu de fato parta de experiências pra poder falar de questões coletivas, eu nunca escrevo desse lugar (até pq esse tipo de afeto tá longe demais da minha experiência rs), mas ele sempre aparece do outro lado. Eu não sei até que ponto isso não diz de um condicionamento, das pessoas estarem muito acostumadas que a possibilidade de estar com outro é isso, já que muita gente trabalha essa associação. Fiquei aqui imaginando se mesmo nesses trabalhos que vão além que ele cita, se essa ideia não acaba sendo comum. E o outro é sobre PANC. Ao longo dos anos alterei a forma sobre como escrevo sobre esses ingredientes justamente pq foi me incomodando demais a fetichização e a facilidade de captura pelo sistema como um item raro - e portanto, caro -, o que é o oposto da ideia que se quer cultivar. Mas é curioso pq apesar de ter abolido a alguns anos o termo na minha escrita (e ter defendido publicamente o porquê disso), eu percebo tbm que tem uma dificuldade prática de se falar sobre esses itens autóctones sem cair na fetichização, já que as condições de onde eu falo na maioria das vezes são irrepetíveis pro público que me lê, e a internet condicionou a gente a estar ali só desejando produtos e experiêcias em vez de ser capaz de cultivar o olhar local pra própria (e irrepetível) abundância. Como não ser capturado pelo sistema: a velha questão que parece que não sai de moda rs. Muito obrigada por me apresentar o Guilherme Lobão

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Carla, que alegria imensa me deu ler seu comentário. Tanto a tese de Lobão quanto o seu trabalho – academia e empirismo, análise e vivência – mostram que estamos à procura da saída desse sistema, ou de pelo menos entender um pouco como fomos capturados. A nomenclatura para PANC é algo que eu só notei depois de ler algumas pessoas criticando, como você e a Bruna Crioula. E também porque, dentro de uma redação, nomear as coisas e diferenciá-las facilita muito na hora de noticiar. Trabalhar com o senso comum também, rs. A reprodução de termos e dinâmicas nunca é questionada, porque algumas são vistas como inocentes, como o termo PANC, e algumas são obviamente escolhas por sua "exclusividade" e status, como a ideia recente e agora onipresente de que o chef de cozinha é "a voz" para falar sobre comida, quaisquer que seja a abordagem.

Muito obrigada pela leitura e comentário. <3

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Impecável!

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