recomendações comentadas #4
ouroboros existencial | a vanguarda é vernacular | escrever mais para escrever melhor
relembrar é viver:
[jan/23] breve retrospectiva de 2022
[dez/21] menos venlafaxina no corpo, mais louça na pia
[ago/15] a depressão é uma despensa cheia de comida podre
OUROBOROS EXISTENCIAL
O intervalo de quatro meses sem publicar nesta newsletter foi causado por vários motivos. Um deles foi o estresse econômico pelo qual passei no primeiro semestre de 2022. Para evitar viver tudo aquilo de novo, me entupi de trabalho remunerado (e continuo disponível para frilas). A newsletter, por mais satisfatória que seja escrevê-la, teve de ser deixada de lado. Primeiro preciso comer para depois escrever.
O outro motivo possivelmente é uma consequência deste primeiro; o agravamento da minha velha conhecida depressão. Transtornos psiquiátricos crônicos são a versão terrena da lei do eterno retorno. Nunca estamos verdadeiramente livres deles. Aprende-se a viver com eles, apesar deles, respeitando o tempo e aproveitando os intervalos de trégua.
Essa canção sempre me toca muito. Marcou um período importante da minha vida e – hoje vejo – do qual nunca consigo me distanciar definitivamente. Finais de ciclos longos são elásticos. Prolongam-se por anos e voltam a apertar de vez em quando. Este foi um bom mês para ouvi-la novamente e ritualizar um novo começo.
A VANGUARDA É VERNACULAR
[em espanhol e em inglês – use a opção 'traduzir página' do seu navegador]
Renata Lira, jornalista mexicana e autora do Atole News, escreveu um belo ensaio sobre a formação da cozinha mexicana em 2019. Chama-se La Madre, el mole y Pujol: microhistoria de cocina mexicana, e inicia a discussão a partir do mole-madre, prato de assinatura do restaurante Pujol, do chef Enrique Olvera. Li este texto em espanhol na Revista de la Universidad de México há alguns meses, mas Renata acabou publicando-o em inglês em sua newsletter.
Neste ensaio, Renata mostra o quanto a alta cozinha empacota a vanguarda do conhecimento popular em seus menus degustação, homenageando-o de forma condescendente. Seu texto nos guia pelas transformações da cozinha profissional nos últimos séculos no México, pontuando temas como eurocentrismo, disputa social, cozinha de fusão, colonialismo e cultura alimentar.
La llegada del modelo francés de restaurante a México también sucedió en el contexto de dos transformaciones claves: el Porfiriato y la Revolución. La élite gobernante claramente favorecía lo europeo sobre lo indígena. Los restaurantes y su lenguaje sólo sirvieron para acentuar más las tensiones de clase. Poco después estalló la Revolución. Pero mientras en la realidad social y política se vivía una separación, en las cocinas pasaba lo contrario. Si abrimos un recetario antiguo como el Cocinero mexicano, podemos darnos cuenta de que en el terreno de la cocina antes de que llegaran los restaurants, ya existía una fusión franco-mexicana, la de convento.
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Durante el movimiento insurgente y en años posteriores sucede algo similar: en las cocinas se gesta una revolución paralela. Varias cocineras amas de casa (una de las más prolíficas fue Josefina Velázquez de León) se juntaron para hacer libros de cocina en los que “expresaban su visión personal de la nación, manteniendo al mismo tiempo un aire de respetabilidad doméstica”, señala Jeffrey M. Pilcher en ¡Vivan los tamales! Ese trabajo de recuperación de recetas fue una manera de incorporar la pluralidad del país y construir una identidad de nación, de propiciar un verdadero mestizaje. Ese rol de las mujeres en la vida culinaria de México nunca ha perdido continuidad, aunque en el mundo de los chefs y los restaurantes sea un tanto invisible.
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el hecho de que señale el recetario de su madre como referencia en el fondo dice más de lo que parece, pues sin proponérselo, deja ver la falta de reconocimiento a la cocina doméstica en el ámbito profesional, incluso si es de donde él mismo ha abrevado sus más grandes ideas. Esa cocina mexicana, de casa, de campo, de ciudad, callejera es la única que nunca ha dejado de evolucionar. Es vieja y es sabia, pero también es moderna e incluyente, no se anda con prejuicios sociales ni con esnobismos, aprovecha lo bueno de la naturaleza y no le teme a lo industrial y moderno. Incorpora. Suma. Es como un vaso de esquites con mayonesa y chile (otro plato icónico de Pujol).
ESCREVER MAIS PARA ESCREVER MELHOR
JP Cuenca volta a ministrar sua oficina experimental de criação literária (R$ 400, às quintas-feiras de fevereiro).
Eu participei da primeira turma, no primeiro semestre de 2022, e foi tão rico que ainda me pego pensando no conteúdo. O segundo encontro, sobre cidade, foi o mais impactante para mim. Nunca havia parado para pensar no estranhamento que as pessoas tiveram com o adensamento populacional de cidades. Desde então, pus na geladeira um texto que desde dezembro de 2021 quero escrever (e que já citei algumas vezes nesta newsletter), sobre a identidade alimentar em grandes centros urbanos.
Recomendo para qualquer pessoa que queira se sentir encorajada a escrever tanto ficção quanto não-ficção, a pensar no ofício de trabalhar com palavras ou que queira um mergulho em teoria e prática com um ótimo interlocutor – JP é um tagarela com foco.
São cinco encontros, sendo quatro em turma e o quinto, particular. É um tête-à-tête com o Cuenca para tratar das questões que você quiser. Inscrições pelo e-mail oficinacuenca2021@gmail.com. As vagas são limitadas e esgotam rápido.
Oi Flavia, adorei a indicação do curso do Cuenca! Fiz uma oficina com ele em 2016 e amei muito. Se o tema das cidades te interessa, pode gostar da minha news! Chama Trem das Onze, tá aqui no substack :) https://tremdasonze.substack.com/
Holy moley, girl! Every time you land in my mailbox I find myself knee deep in a new way of looking at the world. Thank you for introducing Asako and that song and that performance--it's shattering. And thank you for Renata Lira's newsletter. And thank you for keep going. I hope you feel better or as better as can be coming out of darkness. I know how it is but here you are again! Much to rejoice.